Poesias

A VIDA QUE SE VAI (para Raul Machado)

Como deter com um grito
a vida que se vai na ventania
por todas as vísceras que crescem
os vermes de uma paixão que já está
/perto do fim.
E até mesmo negar à vida o inferno a quem
/se resigna?


Como resistir com um gemido
de sol a sol, sempre a fugir do escuro
com um pouco de fôlego entre as pernas
/e coração,
sempre a correr dos quandos e dos porquês?
Outro hoje, outro amanhã, o sonho de ontem
e o desejo de perseguir o desejo de outro
/desejo...



Como suportar cada dia,
as horas, o fígado comido
pelas memórias podres
de um desejo que ame
mas não transige?



Como caminhar ao sol,
as virilhas inflamadas,
o corpo e o espírito a se debaterem
por um pouco de vida, só um pouco?
Viver e não cumprir um destino
/ainda não é viver.


Para um homem que não se dobra
por uma esperança, como esperar
nas duas margens desse rio, sem banhar-se?
Para um sonho que não se mede
por um cavalo, como dançar com as culpas
/antes de sepultá-las?


De meu tempo darei conta a Deus
/e ao diabo,
mas só depois de gastar sem conta
/o meu desejo.

Paulo Roberto do Carmo
17/03/2017

 

 

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